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ARTIGO – Por um final de curso mais feliz


Por ocasião do final do último ano do curso superior, os acadêmicos devem apresentar, por escrito, seu Trabalho de Conclusão de Curso, conforme sua área de estudo e delimitação do tema.


Em geral, esse ano torna-se penoso para o estudante, especialmente, para aquele que não se dedicou à leitura desde o Ensino Fundamental e Médio, e, que, levado pelas circunstâncias de trabalho, lê pouco, e escreve menos ainda. Para esse aluno, produzir os capítulos teóricos de seu trabalho final, dando seu posicionamento com comentários às ideias dos autores mencionados, é um processo doloroso demais, é andar descalço em estrada cheia de pedriscos cortantes ou roliços e lisos – as palavras.


Também acontece o comodismo, por parte de alguns, que fazem um plágio superficial das leituras, substituindo uma ou outra palavra, marcando partes do livro e copiando-as parcialmente. Ou pior, pagam alguém para fazer sua tarefa. Infelizmente, há pessoas que vivem dessa atividade, o que muito atormenta os orientadores de pesquisa. É uma questão de ética a da produção autêntica de conhecimento.


Essa defasagem do estudante em sua capacidade de escrever, por diversos motivos, começa lá nas longínquas séries iniciais, em que o grau de exigências quanto à leitura é restrito em qualidade, e durante o ensino de 5.ª a 8.ª séries, em que o tipo de leitura cultivado é, em geral, simples demais. Nesse nível o aluno deveria percorrer dos infanto-juvenis aos clássicos da literatura brasileira, deixando para o Ensino Médio, já com o gosto pela leitura consolidado, o rol de autores mais “pesados”, como Euclides da Cunha, Lima Barreto, Antônio Callado, Guimarães Rosa, Mário Palmério, Graciliano Ramos, Lígia Fagundes Telles, Ignácio de Loyola Brandão, entre outros. Conhecemos pessoas que ao final do Ensino Médio haviam lido toda a Literatura Nacional e mais os clássicos da Literatura universal. Esses se deram e se dão bem no trabalho intelectual. Leitura e escrita fazem parte de um processo permanente de enriquecimento cultural. E a tendência atual do estudante adolescente é não aprofundar-se muito nos estudos. Mas continua sendo necessário o esforço pessoal de revisão de conteúdos, de mais leituras, de interesse em realizar trabalhos bem feitos. A aprendizagem vai além da compreensão imediata do assunto, ela deve se estender, pela reflexão, pela vontade de aprender, pela abertura pessoal a esse trabalho próprio da adolescência e juventude. Atualmente, da vida toda. Quando o professor passa a aceitar como um mal irreversível, de época, que seus alunos não leiam, que não pesquisem, que copiem e colem e leiam slides em suas apresentações, em vez de mostrarem o que aprenderam, e dialogarem, com curiosidade, com colegas e com ele, usando a tecnologia como complemento e, não, como substituto de sua memória, a motivação, o desafio, o comprometimento vão decaindo, até chegarem à condição de pseudointelectuais, o que é lastimável.Ser autodidata é fundamental. Cada um deve assumir o controle de seus estudos e de leituras complementares, de cursos paralelos, de assinatura de periódicos, entre outras atitudes a serem tomadas. Quem quer chegar a um estágio de profissional qualificado, sem temer o mercado de trabalho, nem a sociedade que o cerca, precisa ter mais apego aos livros, isto é, à cultura como um todo, incluindo as artes, as pesquisas, a ciência mais apurada. Mas é preciso lembrar que “a natureza não dá saltos”, e que aquela criancinha que aparece na escola, com aquele sorriso confiante e feliz, é o universitário de alguns anos depois, e que será mais feliz e realizado, se lhe dermos condições para desenvolver seu potencial.


Ser bom professor e bom aluno exige esforço e disciplina, desde o início. Suavizar na educação e no ensino é, também, superficializar o futuro da humanidade. Nesse contexto, pais e professores são os primeiros agentes e líderes da caminhada. Assim ninguém teria que sofrer com a produção de textos em que as palavras não fluem – amontoam-se. Os profissionais sofreriam menos em seu dia a dia de trabalho. E a vida em sociedade poderia ser melhor para todos (na política, na saúde, no policiamento, nas empresas…). Talvez até houvesse menos consumo de bebidas alcoólicas e de outros compensadores da sensação de fracasso existencial.


 


* Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi) e da Academia de Cultura Precursora da Expressão (Acupre), professora de Língua Portuguesa, no Colégio Técnico de União da Vitória (Coltec), e nos cursos de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv. Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br



Este texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, do Jornal Caiçara, de 3 de dezembro de 2010.

por: UNIUV

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