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ARTIGO – Como fazer para aprender melhor nossa língua?


Sem dúvida, o melhor caminho é a leitura de bons autores, os poetas, principalmente. Experimente-se ler, com cuidado, por exemplo, Arnaldo Antunes.


Sem preconceitos linguísticos, o autor divide as palavras, em busca de sonoridade ou de sentido; ocupa a página de forma que, nela, tudo signifique: o tamanho das letras, seu traçado, sua colocação no papel, sua repetição… O visual e o verbal contracenam e o sentido emerge do todo.


“A SURPRESA

DO MESTRE

SEM DISCÍPULOS

:

CONTRA

O SOL,

O VIDRO.”


Esses escritores, em geral, muito cultos, entendem também de música, dos recursos da mídia e da tecnologia atual, transitando livremente entre eles, carreando recursos para seu texto. Cada poema é aula de estética, de sonoridade, de exploração significativa da linguagem, de contrastes, de luz e sombra.


Como diz Manoel de Barros, Poeta do Pantanal mato-grossense, escrever é como brincar com as palavras, com satisfação, revolvê-las, ouvi-las, perscrutá-las, até descobrir suas vozes mais ancestrais. Esse mesmo autor chega a usar substantivos como verbos, com certeza, de forma impactante e original de expressão: uma rã me pedra, um passarinho me árvore.


Assim, o poema “A palavra seda”, de João Cabral de Melo Neto, por exemplo, é simplesmente, fantástico. E é muito diferente dos de Arnaldo Antunes ou dos de Manoel de Barros. Todos eles, os poetas, são mestres de língua. Ler poemas, apreciá-los com agudeza e carinho, percebendo tanto o sentido quanto a forma de dizer, sem dúvida, dão ao cidadão a dimensão da riqueza, do potencial, da fonte inesgotável de novas possibilidades que é a língua materna quando “sai da gaveta”, quando é desburocratizada. Por isso exclama Drummond: “Ai, palavras! Ai, palavras!”


Observe-se que no poema “A palavra seda”, falando sobre a seda, o poeta descreve o modo de ser da moça, sem falar dela, mas das reações havidas por onde ela passa. E toda a crueldade é lembrada porque, para obter a seda, há que se lembrar de que o bicho-da-seda é morto, para que a seda seja produzida.


“É certo que tua pessoa

Não faz dormir, mas desperta,

Nem é sedante, palavra

Derivada de seda

………………………………………..

Mas em ti, em algum ponto,

Talvez fora de ti mesma,

Talvez mesmo no ambiente

Que retesas quando chegas,



Há algo de muscular,

De animal, carnal, pantera,

De felino, da substância

Felina, ou sua maneira,



De animal, de animalmente,

De cru, de cruel, de crueza,

Que sob a palavra gasta

Persiste da coisa seda.”


Na busca de sentimentos difíceis de explicar, existe um crescente de percepções até que se chega à noção completa – alguém fascinante, mas que mata, faz sofrer. Começa dizendo que as coisas são impossíveis no poema, só as palavras são possíveis. Emprega como fio condutor do texto termos relativos a seda (sedante, pessoa que é como seda) e conclui como iniciou, tratando da realidade “que, sob a palavra gasta, persiste na coisa seda”.


Quanta competência no dizer, pela linguagem, a complexa e intensa interação do nosso mudo interior com o exterior. Assim como J.C. de Melo Neto, muitos poetas nos conduzem por inéditos percursos do idioma nacional.





* Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), pmembro da Academia de Cultura Precursora da Expressão (Acupre), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv. Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br







Este texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, do Jornal Caiçara, de 29 de outubro de 2010.

por: UNIUV

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