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ARTIGO – O Filho Eterno, de Cristóvão Tezza

 

Cristóvão Tezza nasceu em Lages, SC, e vive em Curitiba desde criança. Leciona na Universidade Federal do Paraná. Tem várias obras publicadas, entre elas, Trapo e, agora, O Filho Eterno, pela Record.

Com um distanciamento quase científico, narra a história de um pai, cujo primeiro filho nasce com síndrome-de-Down.

Esse pai, personagem que o representa, na história, é jovem, quer ser livre intelectualmente, e revolucionário no agir. Lê muito, desde adolescente, e escreve, com o intuito de tornar-se um autêntico escritor. Após viajar a estudo, pelo mundo, casa-se e, ainda sem emprego, é colocado diante do inesperado, do qual tenta fugir, com argumentos evasivos, ou lembranças de passagens de suas leituras, ou de seus feitos, sem o peso da responsabilidade definitiva, um filho, um filho diferente.

É muito comovente a obra, e o leitor, por empatia, passa a refletir e a sofrer, com aquele pai e com aquela mãe, a acompanhá-los na busca ansiosa de desenvolvimento para seu filho, Felipe. A casa transforma-se em clínica de estímulos. E, nos intervalos de tempo, o narrador vai escrevendo seus livros. O filho rolando no chão, firmando a cabecinha, sentando, tentando comer sozinho… Tudo é conquista, é vitória.

“A linguagem é conquista penosa, terreno em que o filho avança aos solavancos ininteligíveis, cacos de palavras e relações, em meio a gestos e afetos sem tradução. É preciso um certo esforço para amá-lo, ele pensa – ou ele não pensa, o pai, ele não pensa em nada.”

Passando o tempo, o menino tem aulas de pintura, de música, de teatro, assiste a futebol, à televisão, utiliza o computador. O pai descobre, aos poucos, que “a criança atinge, pela afetividade, uma compreensão superior da vida e do mundo.”

A obra, premiada cinco vezes, já está na sétima edição, com mais de 20.000 exemplares vendidos no Brasil. A Editora Record afirma que O Filho Eterno já tem versões em Portugal e Itália. E que será lançado, neste ano de 2009, na França, Espanha, Austrália, Nova Zelândia, e Holanda. O escritor tem participado de entrevistas, mesas-redondas, palestras, afinal, as pessoas querem conhecê-lo mais de perto, o que é igualmente, gratificante.

É bom lembrar que o foco da história é o pai, não o filho. Um pai que não quer despertar piedade, nem é tocado pela fé; ele mesmo se compara, por algum tempo, com um bezerro, cabeceando, desviando os obstáculos, sem querer aceitar a situação.

Esse relato literário, de matriz autobiográfica, é um corajoso enfrentamento de si e dos outros, com uma sinceridade surpreendente. Chegou a pensar, bem de si para si, no início, que o filho viria a falecer, muito em breve, de algum mal: “O que o ampara agora, no vaivém desses dias medonhos, é a perspectiva, justamente da cardiopatia do seu filho, que acabará logo com o pesadelo, ele sonha, e mais uma vez se antevê recebendo abraços e condolências sentidas.”

É um romance que pode dar aos leitores um pouco mais de maturidade existencial. Faz a cabeça e o coração pesarem cheios de angústia, e o ar parece rarefeito. O clima emocional transmitido é o da vida do narrador, personagem heroico, mas frágil. É o de um choro sufocado e denso, algo semelhante ao de outra obra do autor, Trapo, ou ao de O Processo, de Kafka.



*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.031, e na edição on-line nº. 531 do Jornal Caiçara, de 27 de fevereiro de 2009.

por: UNIUV

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