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ARTIGO – A conquista da autonomia pela conquista da linguagem



O bebê, ainda no ventre materno, percebe o ritmo e a melodia da voz materna. Depois de nascido precisa ouvir a mãe (ou quem fizer esse papel) e ser ouvida em suas tentativas de expressão.

O nenê (ser ainda inacabado tanto física quanto psiquicamente), no início, sente-se como extensão da mãe, e está ávido por relacionar-se, para que se completem suas funções psíquicas. Isso justifica porque precisa tanto de amor, precisa ser entendido e precisa ter alguém que lhe permita evoluir como pessoa. Precisa da mãe que se põe no lugar dele e interpreta seus sinais de linguagem e que se coloca como interlocutora, que conversa com ele. Até que ele consiga perceber-se como um “eu” diferente dela, mas carente de interação.

Os psicolingüistas afirmam que antes do alimento, o bebê precisa, necessariamente, da voz da mãe que se dirige a ele. Nem é o sentido que importa, de início, na conversa com a mãe; é a entonação, a musicalidade, o amor manifesto na fala. É a linguagem manhês ou mamanhês, segundo Inês Catão, Doutora em Psicologia Clínica, pela universidade de Coimbra.

A fala e o olhar são fundamentais à criança para a formação de imagens. E, para a fixação delas, o afeto. E o fato de a mãe interpretar os sons da criança, mesmo antes que fale, estimula-a a manifestar-se quando a mãe está perto e a ouvir sua própria voz, quando a mãe se afasta um pouco.

Pesquisas revelam que crianças de berço, que ouviram historinhas narradas por sua mãe ou por outras pessoas, narradas com muita expressão e carinho, desenvolveram muito melhor a capacidade verbal, que outras crianças que não passaram por essa experiência. Esse fato influiu, posteriormente, nos trabalhos escolares e no seu desempenho intelectual.

Acreditamos que as creches e escolas da infância precisam valorizar muito o diálogo com as crianças e a narração de histórias. A criança, como o adulto, se abandonada pela indiferença, em seu silêncio, pode ter depressão, ou outras doenças psíquicas.

Que os pais tomem seus filhos no colo, com carinho, e lhes contem histórias, e ouçam o que elas dizem, que as confortem com palavras e gestos, terá reflexo na harmonia de seu ser, no seu rendimento verbal, na fluência e desinibição da linguagem e na criação do gosto de ler. A escola tem igual necessidade de aperfeiçoar-se nesse campo psicolingüístico, para que a criança receba o atendimento necessário a seu crescimento mental e psicológico adequado.

Cléo Busatto, autora de obras sobre contação de histórias para crianças, afirma que contar histórias é uma “arte porque traz significações ao propor um diálogo entre as diferentes dimensões do ser”. Os contos narrados alimentam o imaginário da criança, dão mais brilho a seu mundo interior, dão-lhe liberdade para imaginar e dar vida à história, sem ninguém a censurando. Em resumo, encantam-na.

Ver, ouvir e perceber o afeto – esse é o caminho do simbólico que leva ao imaginário e ao desenvolvimento psicológico. Assim como o leitor, o ouvinte de histórias é um co-autor, pois constrói um cenário interno, conforme seu repertório imagético, visualizando-as como lhe convier.

Imagens carregadas de afetividade e emoção, permanecem por muito tempo, e são relembradas, eventualmente, com alegria e poder inspirador de grandes projetos existenciais. No mínimo, alegria de viver.

Se a criança, na infância não ouve histórias de fadas, contos maravilhosos, ouve apenas histórias muito próximas do real, segundo o psicanalista Bettelheim, pode pensar que seu mundo interior é inaceitável para seus pais. Depois, como adolescentes, para compensar o que perderam na infância, fogem do racional, momento em que deviam estar mais próximos da realidade que os espera. O pior que também pode acontecer é tornar-se uma pessoa insatisfeita com a vida, como se sempre lhe faltasse algo. Parece-nos que todos devemos estudar mais Psicologia e aplicá-la em nosso mister diário.

*Mestre em Lingüística Aplicada, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (Alvi), professora de Língua e Literatura nos cursos  de Secretariado Executivo e Comunicação Social, e presidente do Conselho Editorial da Uniuv.

Esclareça suas dúvidas. Mande sugestões para esta coluna pelo e-mail prof.fahena@uniuv.edu.br

Esse texto foi originalmente publicado na coluna Questões de Estilo, da edição impressa nº. 2.009, e na edição on-line nº. 509 do Jornal Caiçara, de 22 de agosto de 2008.

por: UNIUV

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